
O Brics, inicialmente composto por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, é um grupo de países emergentes que têm apresentado as maiores taxas de crescimento econômico nos últimos anos. Criado com o objetivo de promover a cooperação política e econômica entre seus membros, o BRICS realiza anualmente cúpulas, que têm como finalidade alinhar políticas de desenvolvimento e fortalecer a colaboração em áreas de interesse comum.
Em 2024, o bloco foi ampliado com a adesão de Irã, Arábia Saudita, Egito, Etiópia e Emirados Árabes Unidos. Com isso, o Brics passou a representar atualmente 40% da população mundial e 37% da economia global, conforme dados do Fórum Econômico Mundial.
Ao longo do tempo, os países-membros do BRICS têm buscado maior autonomia, colocando em pauta a ideia de desvinculação da hegemonia do dólar e a criação de uma unidade monetária comum. O objetivo dessa nova moeda seria reduzir a dependência do dólar americano, que domina tanto o comércio internacional quanto as reservas cambiais dos países. Além disso, questões geopolíticas também influenciam essa busca, como, por exemplo, a exclusão da Rússia do sistema SWIFT (Sociedade para Telecomunicações Financeiras Interbancárias Mundiais) após a invasão da Ucrânia em 2022. Esse evento levou a Rússia a solicitar transações em outras moedas, e, por ser um de seus principais parceiros comerciais, a China tem incentivado negociações utilizando sua moeda local, buscando fortalecer sua economia.
Nesse contexto, o BRICS propôs a criação da “BricsCoin”, seria uma moeda com lastro em ouro, em que cada unidade seria equivalente a uma quantidade específica de ouro físico, destinada a realizar transações comerciais dentro do bloco. Essa iniciativa poderia gerar impactos significativos, não apenas para os países-membros, mas para o cenário econômico global como um todo.
Entretanto, a proposta de uma nova moeda não foi bem recebida pelo presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump. Em sua conta na Truth Social, rede social da qual é dono, Trump alertou os adverte as nações do Brics: “A ideia de que os países do Brics vão se afastar do dólar enquanto olhamos de braços cruzados acabou.” escreve o norte-americano no dia 30 de janeiro deste ano. Em seguida, Trump reiterou o que já havia mencionado em novembro do ano anterior e acrescentou: “Nós vamos exigir um compromisso desses países aparentemente hostis de que eles não vão criar uma nova moeda dos BRICS nem apoiar nenhuma outra moeda que possa substituir o poderoso dólar. Caso contrário, eles vão enfrentar tarifas de 100%”.
Em resposta, o presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva defendeu a importância do BRICS, destacando: “É importante que a gente não tenha preocupação com as bravatas do Trump. Que a gente discuta o que é importante para nós, o que é importante para o mundo” disse em entrevista a rádios mineiras na manhã do dia 5/02. Lula reiterou que o bloco tem o direito de criar uma moeda própria para transações comerciais, lembrando que a Organização Mundial do Comércio (OMC) permite a taxação de até 35% sobre qualquer produto. Portanto, caso o Brasil seja alvo de tarifas dos Estados Unidos, o presidente brasileiro afirmou que o país também taxará os produtos norte-americanos.
A próxima cúpula do BRICS está prevista para ocorrer no Brasil, entre fevereiro e julho de 2025. A presidência do bloco, assumida pelo Brasil este ano, permitirá ao país direcionar as discussões para os temas que considerar mais importantes. O presidente Lula afirmou que as discussões sobre a criação de uma moeda comum continuarão, embora a implementação dessa ideia ainda não seja uma perspectiva de curto prazo, especialmente devido à complexidade da ampliação do grupo.